O JORNALISTA
Minha família sempre esteve ligada à imprensa. Meu pai, por mais de 30 anos foi dono do jornal Tribuna Sul Paulista, que foi pioneiro em tudo que foi possível em sua época, desde a primeira impressão a cores, a primeira clicheria, o primeiro linotipo, o primeiro jornal computadorizado, entre outros como primeiro jornal diário, na internet, etc.
Mas isso tudo sempre foram ferramentas para se fazer um jornal. Meu pai sabia que necessitava estar na vanguarda para atrair mais leitores. Mas o que ele mais sabia, era que não bastava ter um jornal lindo, colorido, cheio de fotos, se as matérias não fossem verídicas.
Quando emitia opinião, o fazia em forma de editoriais, em matérias assinadas.
Por décadas, a Tribuna Sul Paulista foi o jornal mais lido da cidade. Sempre houve outros jornais, é claro. Mas era incrível a credibilidade que a Tribuna possuía.
E qual a razão disso? Simples.
Como dizia meu pai, ele “apenas noticiava os fatos, cruamente, da forma como ocorreu, sem emitir parecer ou opiniões”. Ele deixava que os leitores formassem suas opiniões.
Era comum um ou outro jornal publicar algum furo de reportagem e a população aguardar que a Tribuna publicasse também, para daí ter certeza que tal fato era verdadeiro.
Meu pai sempre prezou em ter seu jornal totalmente imparcial e independente. E mais que isso: ELE sempre foi imparcial e independente.
Presenciei, pelos vários anos em que trabalhei com ele, ofertas de subornos, de conchavos, de favorecimento pessoal, etc.. Mas nunca o vi cair em tentação.
Vi, dentro de casa e longe dos olhos de todo mundo, meu pai sorrindo quando um candidato vencia a eleição, seu time vencer um campeonato, bem como vi ele ficar triste com fatos similares. Mas sempre distante dos olhos dos leitores.
Nunca vi meu pai emitindo opinião sobre esse ou aquele candidato, esse ou aquele político, exceto em seus editoriais.
Nunca vi meu pai levantar a bandeira de um partido ou candidato.
E olha que ele vivia participando das reuniões do “senadinho”, que ocorria todas as manhãs de domingo, na Praça Anchieta. Ele ouvia a todos, mas dava algumas opiniões de forma totalmente imparcial, sem deixar transparecer sua preferência sobre os assuntos.
E porque? Simples! Porque a função do jornalista é transmitir a noticia, é levar a noticia até os leitores.
Quem vai acreditar num jornal ou jornalista, que se diz petista, escrevendo sobre o PSDB ou seus candidatos ou políticos? Ninguém...
Por conta disso, sempre foi um Jornalista respeitado em Itapeva e Região.
Afinal, Jornalista tem q ser independente. Não pode demonstrar suas vontades, suas opiniões, suas tendências. Pois do contrário não é jornalista é TRABALHADOR DE JORNAL.
Bem dizia meu pai que ser jornalista é um sacerdócio. Hoje você está entrevistando ou noticiando sobre alguém que, intimamente, você detesta ou sabe que não presta. Amanhã, está entrevistando alguém que você tem como ídolo. Em ambos os casos, deve manter seu profissionalismo ao extremo, para não ser mal recebido e não notarem duplo sentido nas perguntas ou até evitarem de ser entrevistado
Um jornalista ético, profissional, correto não tem partido político, não tem time de futebol, não tem preferências. Ele é, antes de ser um cidadão, um JORNALISTA. Coisa para poucos!
Porque estou escrevendo esse texto? É porque tenho visto, ultimamente, muita gente que TRABALHA EM JORNAL, rádio ou televisão e quer ser reconhecido como jornalista. Desculpem-me, mas assim não os reconheço, até o dia em que venham assumir o manto sagrado do sacerdócio do jornalismo, que não é prá qualquer um, já que é ele que deixará gravado e registrado, para gerações futuras, os acontecimentos do presente.
Imagine um jornalista falando mal de uma pessoa ou político, numa reportagem? Mesmo que na edição seguinte venha um desmentido ou pedido de desculpas, isso ficará gravado para sempre, por dezenas, senão centenas de anos, nas páginas impressas.
Por isso o profissionalismo e a retidão no trabalho é fundamental.
Por isso, deixo aqui os meus parabéns aos JORNALISTAS verdadeiros, profissionais ou não, que enobrecem a profissão, à quem eu tenho como símbolo meu pai, o grande Comendador Jandir Abreu Gonzaga.
Já aos trabalhadores em jornal, sugiro voltar a fazer seus jornaizinhos em escolas, em mimeógrafos, onde cabem muitas fofocas, reclamações e parcialidades, que é o dom que Deus lhes deu.