Passei no vestibular. Que alegria. Meus pais estavam muito orgulhosos, pois seu primogênito iria cursar Análise de Sistemas (Computação) na Faculdade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná, que segundo ouviram falar, era a profissão do futuro.
Na época, em 1.986, computador era mais caro que automóvel. Logo, o máximo que tinha conhecia de computador eram aqueles “armários” enormes nos filmes com duas rodas virando de um lado pro outro, enquanto milhares de luzes acendiam e apagavam.
No primeiro dia de aula, o professor demorou entrar na sala e ficamos conversando e nos conhecendo. Éramos quarenta alunos, recém-saídos da adolescência e nervosos por estar entrando numa faculdade.
Nas conversas pude notar que, praticamente, todos já conheciam um computador e pelo menos uma linguagem de programação: o famoso Basic. Alguns até já trabalhavam com computadores em bancos, empresas e estavam lá apenas prá “pegar” o diploma, pois pareciam entender tanto quanto os professores que eu nem conhecia ainda.
Fiquei quieto. Não podia deixar transparecer minha ignorância total e minha absoluta falta de conhecimento no ramo. Mas essa ignorância logo iria aflorar prá sala toda.
Depois de muito tempo entrou o professor, um sujeito novo, alto, magro, de bigode e se apresentou como funcionário do Centro de Processamento de Dados da Faculdade e que, devido ao conhecimento que tinha na área, nos daria aula de Introdução à Informática, vez que por tratar-se de um curso novo no país, ainda não haviam profissionais formados, o que obrigava que pessoas que tivessem algum conhecimento na área fossem habilitadas a ministrarem aulas.
Como todo início de curso, fez cada aluno levantar, se apresentar, dizer de onde vinha e o que conhecia de informática. Tremi mais ainda, pois me senti uma ilha cercado de nerds por todos os lados.
Me levantei, disse meu nome (Neto, é claro), que vinha de São Paulo (prá fazer moral, afinal Itapeva ninguém ia saber onde ficava) e que já “conhecia” computador sem, no entanto, me aprofundar que esse meu “conhecimento” se resumia a filmes e fotos de revistas.
Feitas as apresentações, o professor fez uma rápida explanação sobre a história do computador, nos apresentando o Eniac e Uniac, os primeiros computadores que utilizavam mais de trinta mil válvulas e cabiam num “pequeno espaço” apenas três vezes maior que a sala onde estávamos. Explicou que sua invenção foi exclusivamente militar, para derrubar aviões inimigos e que, tempo depois, passou a ser utilizado em vários outros segmentos de nossas vidas.
Deixou-nos orgulhosos por ter escolhido aquele curso e cheios de esperanças ao afirmar que estávamos desbravando o futuro, ao estudar e aprender a mexer em um equipamento que ainda nem era fabricado no Brasil. E por fim, deixou a sala a vontade prá fazer perguntas e esclarecer dúvidas.
Bom, se eu já estava me sentindo um estrangeiro na sala, me senti um verdadeiro ET no meio daquele monte de nerds, quando começaram a pipocar as perguntas, a maioria dúvidas técnicas.
Meu Deus, que mundo eu vivia? Não tinha a mínima idéia do que estavam falando. Bits, bytes (megabytes nem existia ainda), memória, inteligência artificial, balance line, armazenamento de dados, etc. E eu lá, quieto, vendo a boca do professor se mexer e eu não ouvindo nada além de “blá-blá-blá”.
O professor virou prá mim e perguntou, em tom de desafio:
- E o paulista? Não tem nenhuma dúvida?
Olhei prá ele enquanto viajava na confusão que tinha se formado na minha cabeça e juro que pensei em perguntar se com a minha pontuação ainda dava tempo de mudar de curso. Mas segurei.
Puxei pela memória e tentei relembrar os filmes que havia assistido, onde tinham computadores inteligentes que respondiam, num simples toque, todas as perguntas que lhes eram feitas. E surgiu uma dúvida, que se transformou numa pergunta brilhante! Pelo menos eu achava que era...
Olhei sério pro professor e falei:
- Sim, tenho uma dúvida: quando eu pergunto pro computador quem descobriu o Brasil, como ele sabe que foi Pedro Álvares Cabral? E como ainda sabe o dia, mês e ano?
Silêncio na sala. O professor me olhou, como se esperasse eu “concluir” a pergunta ou então dizer “to briiiiinnncannnndoooo”. Encarei-o, esperando a resposta. E comecei a ouvir um risinho aqui, outro ali até que me senti incomodado. E eu lá, sem entender nada.
Ele segurou o riso, se recompôs e viu que era séria a pergunta. E disse:
- Olha, paulista. Entenda que o computador é burro. Ele não sabe nada. Ele só saberá o que você ensinar a ele. Logo, se você ensinar que quem descobriu o Brasil foi Pedro Álvares Cabral, ele saberá te responder isso. Se você ensinar errado, ele responderá errado. Entendeu?
Sem responder que tinha entendido ou não, rebati:
- Mas professor, se eu sei que quem descobriu o Brasil foi Pedro Álvares Cabral, porque eu iria perguntar prá ele? Eu quero que ele me responda o que eu não sei, oras.
Foi o que faltava prá sala toda explodir numa gargalhada só. E eu lá, sem entender onde tava a graça. Até o professor riu. E muito, sendo salvo pelo sinal do final de aula, quando se retirou apressadamente da sala.
Desconfio que até hoje essa minha passagem é relembrada na sala dos professores durante o cafezinho e contada no primeiro dia de aula aos nervosos calouros, como uma forma de quebrar aquele gelo inicial.
Terminei a faculdade, mas nunca me dei muito bem com essa máquina burra, que me decepcionou logo no primeiro dia de aula.
sexta-feira, 31 de julho de 2009
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kkkkkkkkkkkkkkkk.....eu queria voltar ao passadoo e sentar do seu ladooo nesse dia..
ResponderExcluireu não iria conseguir segurar..kkkkkkkkk
aindaa bem que inventaram o google ne?
rsrs