O tópico anterior me deixou pensativo: porque acham que sou uma fortaleza ou um sem-sentimentos ou um total sem-problemas?
Todo mundo que me cerca acredita que sou um sorriso só e que minha vida é um mar de rosas. Que não sofro por amor, que não tenho problemas financeiros, que tenho a saúde perfeita, que tudo na minha vida teima em dar certo irritantemente...
Que bom se “sesse” assim, diria um amigo meu. Mas, infelizmente (pra mim), não é dessa forma que minha vida acontece.
Decepcionado(a)? Acredito que muitos que lêem meu blog estão sim.
Várias frases marcam a vida da gente, principalmente as ouvidas na infância. E uma delas foi dita pelo meu pai, uma vez em que eu estava muito bravo por não ter sido compreendido numa atitude.
Ele me disse: “o bom bezerro é o que não berra!”.
Pois bem, aprendi a não berrar. Aprendi a ter meus atos questionados e muitas vezes criticados, mas não berrei. Aprendi a sofrer por amor, mas não berrei. Aprendi a tirar da minha boca e dar à alguém, mesmo estando com fome, mas não berrei. Aprendi a ver amores indo e não berrei.
Dizem que de boa intenção o inferno ta cheio, ou seja, muitas vezes temos as melhores das intenções quando fazemos algo, mas o fim é desastroso. E daí, surge as críticas, os entendimentos errados e sou taxado como ruim, sem coração, coração de pedra.
Mas deixo seguir, como diz a música: “deixe estar”. Não berro, pois sempre quis ser um bom bezerro. Talvez isso explique o fato de sempre que me perguntam se estou bem, respondo sorrindo que sim.
Acreditem, nem sempre é verdade isso.
Por me acharem uma fortaleza, muitas pessoas desfilam um rosário de problemas, pedem ajuda e conselhos. Eu os dou. Talvez até isso me ajude a esquecer dos meus.
Mas o duro é quando estou sozinho no meu quarto. Quando a cabeça repousa no travesseiro ou quando acordo de manhã. Esses são os piores horários. Talvez isso explique a minha eterna luta contra o sono. Sempre digo que não gosto de dormir. Deve estar ai a explicação pra isso.
Como já disse num dos meus posts, há alguns anos passei por sérias dificuldades financeiras. Não tinha o que comer além da luz e água estarem cortadas em pleno inverno. E nem meus amigos mais íntimos souberam ou desconfiaram. Passei por isso sorrindo, ajudando muitos deles e nunca berrei. Eles nem desconfiam que estava passando por um dos piores momentos da minha vida.
Já perdi alguém. Algumas vezes, perdi pro bem dela mesmo. Por me conhecer e saber que não sou futuro pra ninguém. Ainda penso nisso. Mas não berro. E não vou berrar.
Tento passar que tudo está maravilhoso. Saio com amigos, bebo, sorrio e rio. Tento fazer meus olhos brilharem. Mas é tudo falso. Talvez eu seja falso. Acho que minha vida é falsa.
Vivo num sonho de fadas. Tal qual o Michael Jackson vivia no mundo de Peter Pan, negando-se a crescer, eu vivo negando existir problemas e dores em minha vida.
Mas isso cansa. Cansa demais. Isso corrói por dentro. Me faz sofrer e chorar. Choro esse que, ultimamente, tem sido muito constante. Diria que até diário, ou noturno. Acordo com meus olhos inchados e grudados, em razão das lágrimas noturnas. Meus lençóis nem sempre estão cobrindo meu colchão e meus travesseiros geralmente amanhecem fora da cama.
É, tenho tido lutas homéricas contra monstros que me atormentam durante o dia e me aguardam à noite para me assombrar e perseguir.
Acordo cansado, suado, exausto e triste. Odeio o sono. Não gosto de dormir.
Mas durante o dia, meu sorriso volta para meus amigos que nada desconfiam. E assim tem que ser. Que pensem que sou essa fortaleza, que não tenho problemas e que meu coração está perfeito, pois à eles devo minha vida e eles não devem ser apresentados à aos monstros que eu cultivei durante toda a minha vida e que ultimamente parece que voltaram mais fortes que nunca.
Sei que os que lerem este blog virão me perguntar o que está acontecendo e como podem me ajudar. Mas sei que não falarei, pois me sinto fraco expondo meus sentimentos e abrindo meu coração.
Realmente, o bom bezerro é o que não berra. E eu não berrava... até inventarem esse tal de blog.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Pensando... (18)
Meu coração tá partido... já tem meses isso... dói, dói e dói...
Desde criança minha mãe sempre dizia que sou muito orgulhoso. Sempre dei razão à ela. Sempre fui. E ainda sou. Meu orgulho supera tudo! Infelizmente, até meu amor.
Mas quando meu orgulho era, de alguma forma, atingido, eu travava. Ele, o orgulho, me proibia, me segurava, não deixava eu agir. Sofri muito. Sempre sofria por isso. E sofro novamente.
Muitas vezes sei deveria fazer algo, mas meu orgulho impede. Foi assim em todos (absolutamente todos) os meus relacionamentos. Sabia que podia tentar de novo, tentar de uma maneira diferente, de outra forma, mudar...
Esse orgulho sempre me fazia esperar um sinal, uma tentativa, um passo da pessoa. Nunca deveria ser eu a dar esse passo ou essa última tentativa. Meu orgulho me travava e ainda me trava. Curiosamente esse sinal, essa tentativa ou esse passo nunca acabava vindo. Nunca veio! E não virá novamente, sei disso.
Esse orgulho... ah! Quisera não tê-lo. Quisera que não existisse. Talvez minha vida teria sido diferente em vários pontos. Talvez eu fosse mais feliz. Ou talvez não... não sei...
Quero acreditar apenas que esse meu orgulho é uma defesa que tenho. Uma barreira protetora, um muro, um escudo. Que sem ele, eu sofreria muito mais.
Vai passar. Logo passa, eu espero. Logo ela estará em outra e com outro. E terei a certeza que meu orgulho me protegeu novamente...
Enquanto isso somente a dor, as lembranças, as fotos, as lágrimas e a vontade me fazem companhia na solidão do meu mundinho.
Ah se o mundo soubesse o que sempre se passou e o que se passa dentro de mim. Talvez não me vissem como essa fortaleza intransponível que acham que sou. Talvez compreendessem que sofro tanto quanto todo mundo. Talvez me achassem de carne e osso. Talvez mais humano. Um simples humano. Um mortal. Que, acreditem, sofre por alguém e tem muitas saudades desse alguém...
Desde criança minha mãe sempre dizia que sou muito orgulhoso. Sempre dei razão à ela. Sempre fui. E ainda sou. Meu orgulho supera tudo! Infelizmente, até meu amor.
Mas quando meu orgulho era, de alguma forma, atingido, eu travava. Ele, o orgulho, me proibia, me segurava, não deixava eu agir. Sofri muito. Sempre sofria por isso. E sofro novamente.
Muitas vezes sei deveria fazer algo, mas meu orgulho impede. Foi assim em todos (absolutamente todos) os meus relacionamentos. Sabia que podia tentar de novo, tentar de uma maneira diferente, de outra forma, mudar...
Esse orgulho sempre me fazia esperar um sinal, uma tentativa, um passo da pessoa. Nunca deveria ser eu a dar esse passo ou essa última tentativa. Meu orgulho me travava e ainda me trava. Curiosamente esse sinal, essa tentativa ou esse passo nunca acabava vindo. Nunca veio! E não virá novamente, sei disso.
Esse orgulho... ah! Quisera não tê-lo. Quisera que não existisse. Talvez minha vida teria sido diferente em vários pontos. Talvez eu fosse mais feliz. Ou talvez não... não sei...
Quero acreditar apenas que esse meu orgulho é uma defesa que tenho. Uma barreira protetora, um muro, um escudo. Que sem ele, eu sofreria muito mais.
Vai passar. Logo passa, eu espero. Logo ela estará em outra e com outro. E terei a certeza que meu orgulho me protegeu novamente...
Enquanto isso somente a dor, as lembranças, as fotos, as lágrimas e a vontade me fazem companhia na solidão do meu mundinho.
Ah se o mundo soubesse o que sempre se passou e o que se passa dentro de mim. Talvez não me vissem como essa fortaleza intransponível que acham que sou. Talvez compreendessem que sofro tanto quanto todo mundo. Talvez me achassem de carne e osso. Talvez mais humano. Um simples humano. Um mortal. Que, acreditem, sofre por alguém e tem muitas saudades desse alguém...
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Pensando... (17)
Voe....
Te dou a liberdade...
Outro jardim te abrigará...
O tempo será justo ao te apresentar as respostas às perguntas...
Não tente pensar por mim...
Não tente entender...
Só eu sei o que se passa no meu íntimo...
Só eu sei o porquê das minhas atitudes...
Embora meu coração não as entenda...
Mas... Voe...
Te dou a liberdade...
Outro jardim te abrigará...
Te dou a liberdade...
Outro jardim te abrigará...
O tempo será justo ao te apresentar as respostas às perguntas...
Não tente pensar por mim...
Não tente entender...
Só eu sei o que se passa no meu íntimo...
Só eu sei o porquê das minhas atitudes...
Embora meu coração não as entenda...
Mas... Voe...
Te dou a liberdade...
Outro jardim te abrigará...
Pensando... (16)
Não tenho filho, por essa razão não sei como seria a educação que daria a ele. Se seria uma educação rígida, como a que eu tive, ou uma educação mais "light", mais liberal?
Sei que os educadores e psicólogos são amplamente favoráveis à educação liberal, dando mais liberdade à criança e adolescente. Particularmente, acho que essa educação, além de fazer a criança desenvolver mais rápido, acaba por fazê-la pular fases, pois passa a ter liberdade e responsabilidades (?) quando deveria brincar, estudar e não ter obrigações.
No passado eu reclamava da educação rígida que recebi. Extremamente severa. Não podia dar um passo sem que estivesse sendo vigiado e sujeito a intermináveis interrogatórios, surras (sim, apanhei muito), castigos e cobranças. Vivia dizendo que com meu filho seria diferente. Seria mais light, mais amigo, mais próximo.
Mas hoje vejo que meus pais estavam corretos. Me fizeram um Homem, com "H" maiúsculo. Um homem que honra sua palavra. Um homem que não prejudica deliberadamente seus semelhantes. Um homem que tem moral. Um homem que não rouba, muito embora tenha tido várias oportunidades. E mais importante: um filho que ainda hoje, aos 42 anos, chama seus pais de "papai" e "mamãe" e ainda pede a sua benção toda vez que os encontra.
Mas tô escrevendo tudo isso porque esta semana foi uma pessoa me procurar no escritório. Ele é garçom de um bar aqui da cidade e está sendo processado. O motivo: o pai de uma menor o acusa de vender bebida alcoólica à filha. Segundo meu cliente, ele não vendeu à menina e sim ao rapaz que a acompanhava e este a deixou beber, que ficou bêbada.
Aceitei o caso. Vou defendê-lo. Porque tenho convicção que o inocentarei.
Mas o que me deixou pensativo não foi sua inocência ou culpa, mas outro fato: como é fácil transferir responsabilidades e culpas.
O pai, indignado, processará o garçom. Com isso, fará com que o mesmo não forneça bebida alcoólica à nenhuma menor. Ótimo!
Mas e a educação que ele deu à filha? O que estava fazendo uma menor num bar à noite? Quem era a pessoa que a acompanhava e lhe forneceu bebida? Porque ela bebeu, sabendo que não podia? Esse pai será processado por "abandono de menor"?
Isso tudo é obrigação do pai. Educação. Responsabilidade. Ele falhou e agora deseja processar o garçom. Transferir responsabilidade. Será que ela foi castigada? Educada? Proibida de sair novamente? Será que ela aprendeu alguma lição?
Ridícula essa atitude. Deveria assumir sua culpa e da filha e castigá-la, senão vai acabar processando todos os garçons da cidade. Isso se ela continuar apenas na bebida e não passar prá algo mais "pesado".
Sei que os educadores e psicólogos são amplamente favoráveis à educação liberal, dando mais liberdade à criança e adolescente. Particularmente, acho que essa educação, além de fazer a criança desenvolver mais rápido, acaba por fazê-la pular fases, pois passa a ter liberdade e responsabilidades (?) quando deveria brincar, estudar e não ter obrigações.
No passado eu reclamava da educação rígida que recebi. Extremamente severa. Não podia dar um passo sem que estivesse sendo vigiado e sujeito a intermináveis interrogatórios, surras (sim, apanhei muito), castigos e cobranças. Vivia dizendo que com meu filho seria diferente. Seria mais light, mais amigo, mais próximo.
Mas hoje vejo que meus pais estavam corretos. Me fizeram um Homem, com "H" maiúsculo. Um homem que honra sua palavra. Um homem que não prejudica deliberadamente seus semelhantes. Um homem que tem moral. Um homem que não rouba, muito embora tenha tido várias oportunidades. E mais importante: um filho que ainda hoje, aos 42 anos, chama seus pais de "papai" e "mamãe" e ainda pede a sua benção toda vez que os encontra.
Mas tô escrevendo tudo isso porque esta semana foi uma pessoa me procurar no escritório. Ele é garçom de um bar aqui da cidade e está sendo processado. O motivo: o pai de uma menor o acusa de vender bebida alcoólica à filha. Segundo meu cliente, ele não vendeu à menina e sim ao rapaz que a acompanhava e este a deixou beber, que ficou bêbada.
Aceitei o caso. Vou defendê-lo. Porque tenho convicção que o inocentarei.
Mas o que me deixou pensativo não foi sua inocência ou culpa, mas outro fato: como é fácil transferir responsabilidades e culpas.
O pai, indignado, processará o garçom. Com isso, fará com que o mesmo não forneça bebida alcoólica à nenhuma menor. Ótimo!
Mas e a educação que ele deu à filha? O que estava fazendo uma menor num bar à noite? Quem era a pessoa que a acompanhava e lhe forneceu bebida? Porque ela bebeu, sabendo que não podia? Esse pai será processado por "abandono de menor"?
Isso tudo é obrigação do pai. Educação. Responsabilidade. Ele falhou e agora deseja processar o garçom. Transferir responsabilidade. Será que ela foi castigada? Educada? Proibida de sair novamente? Será que ela aprendeu alguma lição?
Ridícula essa atitude. Deveria assumir sua culpa e da filha e castigá-la, senão vai acabar processando todos os garçons da cidade. Isso se ela continuar apenas na bebida e não passar prá algo mais "pesado".
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Lembranças... (29)
Para muita gente do Judiciário, advogado é um ser desnecessário e que só atrapalha. Tumultua o processo, atrasa o andamento, orienta testemunhas, recorre de todas as decisões, etc. Não sei pelos meus colegas, mas faço o meu serviço de forma a defender meu cliente para que tenha um julgamento justo e uma pena compatível (se for o caso).
Mas a maior reclamação que fazem contra a nossa classe é a famosa “orientação da testemunha”, ou seja, “preparar” a testemunha para o interrogatório, de forma que ela minta e inocente o acusado.
Sei de casos de testemunhas que por orientação de advogado mentiram no interrogatório e foram descobertas. Resultado: saíram algemadas direto pra cadeia, pois falso testemunho é crime punível com prisão.
E se a testemunha resolver contar que foi o advogado que a instruiu ele também vai preso. Vida difícil a nossa, não?
Tenho por hábito não orientar testemunhas, pois não gosto de ficar nas mãos delas. Imagina se forem presas? Claro que irão me entregar. Geralmente nem converso com testemunhas, só conhecendo-as na hora da audiência.
Algumas vezes, o próprio cliente traz a testemunha até meu escritório ou mesmo no fórum, antes da audiência. Como de praxe, pergunto o que a testemunha sabe, o que viu e digo a ela pra falar somente a verdade. Se achar que vai prejudicar meu cliente, que não diga nada, alegue esquecimento, pois esquecer não é crime. Mentir é!
O Ministério Público que se vire e encontre testemunhas que o ajudem a incriminar o acusado (geralmente meus clientes). Sem querer criticar, mas os Policiais são as piores testemunhas. Eles detonam o acusado, pioram a situação e nos deixa em péssimos lençóis.
Mas não tiro a razão deles. Afinal, se eles prenderam o acusado, não podem falar que o sujeito é bonzinho ou mesmo que erraram. Tem que aumentar mesmo. Muitas vezes, até inventar, pois se o acusado for condenado será a coroação de um trabalho bem realizado.
Sinceramente, policiais não deveriam depor. Pois nunca vi um Policial dizer que errou ou que confundiu o acusado. Já vi casos de Policiais dizerem que o acusado era “conhecido do meio policial, com diversas passagens na delegacia e extensa folha de antecedentes” quando na realidade ele não tinha nenhuma passagem pela polícia. Era réu primário.
Mas tudo bem. Estou contando isso porque esses dias escutei uma pessoa do judiciário reclamar que os advogados “sempre” orientam as testemunhas. E dias depois, tive uma audiência cujo réu era acusado de portar uma arma de fogo o que, pela lei, é crime inafiançável e passível de prisão em flagrante.
Ora, se o sujeito foi pego com uma arma, como orientar a testemunha? Dizer que ela não tinha arma? Que era inocente? Que a arma caiu do céu na cintura dela? Não dá, né?
No dia da audiência lá estava eu, frente ao Juiz e ao Promotor. E nada do acusado. Fomos informados pelo Oficial que havia duas testemunhas de defesa (minhas, que eu havia arrolado) esperando para serem ouvidas.
O Juiz, compulsando os autos (pesquisando o processo), percebeu que o acusado não tinha sido intimado para comparecer naquela audiência, pois não tinha sido localizado. Logo, ele nem deveria saber dessa audiência.
Corretamente o Juiz decidiu remarcar a audiência para outra data, quando então o acusado estaria presente, pois é um direito dele acompanhar todo o processo e saber o que está acontecendo e porque está sendo processado.
O Juiz me perguntou se eu sabia onde estava morando o acusado e eu respondi que não, pois só tinha o visto uma vez, quando ele foi ao meu escritório para agradecer por tê-lo tirado da cadeia através de um pedido de Liberdade Provisória. Na oportunidade, ele me entregou o nome e endereço de duas testemunhas, que juntei nos autos para serem ouvidas nessa audiência.
Depois disso, nunca mais o vi.
Após explicar isso ao Juiz, sugeri que perguntássemos às testemunhas se elas saberiam o paradeiro do acusado, para que pudéssemos intimá-lo com maior rapidez, pois do contrário poderia levar anos essa procura.
O Promotor, talvez desconfiado, sugeriu que fôssemos todos falar com as testemunhas. Saímos da sala e fomos até o saguão do fórum, onde perguntei ao Oficial quem eram as testemunhas, pois eu (juro!) não as conhecia.
Claro que quem me acompanhou até ali o fez por não acreditar que eu não os conhecia ou que não as tinha “preparado”. No saguão o Oficial nos apontou as duas pessoas e fomos até eles tentar descobrir o paradeiro do acusado.
As duas testemunhas eram baixinhas, morenas, pessoas simples que pareciam morar na zona rural devido às suas vestes. Com a aproximação daqueles três homens de terno (eu, o Juiz e o Promotor), eles diminuíram ainda mais de tamanho e ficaram pálidos.
Eu, do lado, apenas acompanhava. O Juiz indagou se eles sabiam onde estava morando o acusado, ao que o primeiro respondeu: ”Sei não senhor!”.
Mesma pergunta pro segundo e a mesma resposta. Preparávamos pra voltar à sala de audiências, quando um deles disse:
- Mas ele não fez nada não, doutor.
E o outro:
- É mesmo. Não fez nada É inocente.
O Juiz e o Promotor olharam pra mim agora com a certeza que eu os tinha preparado. Gelei. De súbito, perguntei a eles: “Não fez nada, né?”, e eles juntos: “Não senhor. Ele é inocente!”. “Foi seu advogado que mandou vocês falaram isso?”. E eles: “Não senhor”.
Com ar de bravo, fitei-os e perguntei: “Qual desses dois aqui é o advogado de vocês e do acusado?” e apontei pro Juiz e Promotor, que tal como eu, estavam de terno e gravata.
O primeiro apontou o dedo, sendo seguido pelo outro, que disse: “É ele, doutor!”.
Pobres moços. Mal sabiam que estavam apontando para o próprio Juiz de Direito.
Olhei pro Juiz, enquanto suspirava e tirava uma tonelada das minhas costas, e disse:
- É, doutor, o senhor orientou direitinho as suas testemunhas. Nem sabem o que o acusado fez, mas sabem que ele é inocente!
Se não fui preso por orientar testemunhas quase fui por fazer piadinha com o Juiz. Ainda bem que os Juízes de Itapeva são super legais...
Mas a maior reclamação que fazem contra a nossa classe é a famosa “orientação da testemunha”, ou seja, “preparar” a testemunha para o interrogatório, de forma que ela minta e inocente o acusado.
Sei de casos de testemunhas que por orientação de advogado mentiram no interrogatório e foram descobertas. Resultado: saíram algemadas direto pra cadeia, pois falso testemunho é crime punível com prisão.
E se a testemunha resolver contar que foi o advogado que a instruiu ele também vai preso. Vida difícil a nossa, não?
Tenho por hábito não orientar testemunhas, pois não gosto de ficar nas mãos delas. Imagina se forem presas? Claro que irão me entregar. Geralmente nem converso com testemunhas, só conhecendo-as na hora da audiência.
Algumas vezes, o próprio cliente traz a testemunha até meu escritório ou mesmo no fórum, antes da audiência. Como de praxe, pergunto o que a testemunha sabe, o que viu e digo a ela pra falar somente a verdade. Se achar que vai prejudicar meu cliente, que não diga nada, alegue esquecimento, pois esquecer não é crime. Mentir é!
O Ministério Público que se vire e encontre testemunhas que o ajudem a incriminar o acusado (geralmente meus clientes). Sem querer criticar, mas os Policiais são as piores testemunhas. Eles detonam o acusado, pioram a situação e nos deixa em péssimos lençóis.
Mas não tiro a razão deles. Afinal, se eles prenderam o acusado, não podem falar que o sujeito é bonzinho ou mesmo que erraram. Tem que aumentar mesmo. Muitas vezes, até inventar, pois se o acusado for condenado será a coroação de um trabalho bem realizado.
Sinceramente, policiais não deveriam depor. Pois nunca vi um Policial dizer que errou ou que confundiu o acusado. Já vi casos de Policiais dizerem que o acusado era “conhecido do meio policial, com diversas passagens na delegacia e extensa folha de antecedentes” quando na realidade ele não tinha nenhuma passagem pela polícia. Era réu primário.
Mas tudo bem. Estou contando isso porque esses dias escutei uma pessoa do judiciário reclamar que os advogados “sempre” orientam as testemunhas. E dias depois, tive uma audiência cujo réu era acusado de portar uma arma de fogo o que, pela lei, é crime inafiançável e passível de prisão em flagrante.
Ora, se o sujeito foi pego com uma arma, como orientar a testemunha? Dizer que ela não tinha arma? Que era inocente? Que a arma caiu do céu na cintura dela? Não dá, né?
No dia da audiência lá estava eu, frente ao Juiz e ao Promotor. E nada do acusado. Fomos informados pelo Oficial que havia duas testemunhas de defesa (minhas, que eu havia arrolado) esperando para serem ouvidas.
O Juiz, compulsando os autos (pesquisando o processo), percebeu que o acusado não tinha sido intimado para comparecer naquela audiência, pois não tinha sido localizado. Logo, ele nem deveria saber dessa audiência.
Corretamente o Juiz decidiu remarcar a audiência para outra data, quando então o acusado estaria presente, pois é um direito dele acompanhar todo o processo e saber o que está acontecendo e porque está sendo processado.
O Juiz me perguntou se eu sabia onde estava morando o acusado e eu respondi que não, pois só tinha o visto uma vez, quando ele foi ao meu escritório para agradecer por tê-lo tirado da cadeia através de um pedido de Liberdade Provisória. Na oportunidade, ele me entregou o nome e endereço de duas testemunhas, que juntei nos autos para serem ouvidas nessa audiência.
Depois disso, nunca mais o vi.
Após explicar isso ao Juiz, sugeri que perguntássemos às testemunhas se elas saberiam o paradeiro do acusado, para que pudéssemos intimá-lo com maior rapidez, pois do contrário poderia levar anos essa procura.
O Promotor, talvez desconfiado, sugeriu que fôssemos todos falar com as testemunhas. Saímos da sala e fomos até o saguão do fórum, onde perguntei ao Oficial quem eram as testemunhas, pois eu (juro!) não as conhecia.
Claro que quem me acompanhou até ali o fez por não acreditar que eu não os conhecia ou que não as tinha “preparado”. No saguão o Oficial nos apontou as duas pessoas e fomos até eles tentar descobrir o paradeiro do acusado.
As duas testemunhas eram baixinhas, morenas, pessoas simples que pareciam morar na zona rural devido às suas vestes. Com a aproximação daqueles três homens de terno (eu, o Juiz e o Promotor), eles diminuíram ainda mais de tamanho e ficaram pálidos.
Eu, do lado, apenas acompanhava. O Juiz indagou se eles sabiam onde estava morando o acusado, ao que o primeiro respondeu: ”Sei não senhor!”.
Mesma pergunta pro segundo e a mesma resposta. Preparávamos pra voltar à sala de audiências, quando um deles disse:
- Mas ele não fez nada não, doutor.
E o outro:
- É mesmo. Não fez nada É inocente.
O Juiz e o Promotor olharam pra mim agora com a certeza que eu os tinha preparado. Gelei. De súbito, perguntei a eles: “Não fez nada, né?”, e eles juntos: “Não senhor. Ele é inocente!”. “Foi seu advogado que mandou vocês falaram isso?”. E eles: “Não senhor”.
Com ar de bravo, fitei-os e perguntei: “Qual desses dois aqui é o advogado de vocês e do acusado?” e apontei pro Juiz e Promotor, que tal como eu, estavam de terno e gravata.
O primeiro apontou o dedo, sendo seguido pelo outro, que disse: “É ele, doutor!”.
Pobres moços. Mal sabiam que estavam apontando para o próprio Juiz de Direito.
Olhei pro Juiz, enquanto suspirava e tirava uma tonelada das minhas costas, e disse:
- É, doutor, o senhor orientou direitinho as suas testemunhas. Nem sabem o que o acusado fez, mas sabem que ele é inocente!
Se não fui preso por orientar testemunhas quase fui por fazer piadinha com o Juiz. Ainda bem que os Juízes de Itapeva são super legais...
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